A refrigeração, por outro lado, não envolve fases sólidas e líquidas, mas fases líquidas e de vapor. À medida que evapora, o líquido absorve o calor à sua volta. O vapor produzido por evaporação é então devolvido ao estado líquido por compressão. Esse estágio de compressão é o responsável pelo "re" de refrigeração — um vapor é reconvertido em líquido, depois re-evapora, causando o esfriamento, e todo o ciclo se repete. Um componente-chave do ciclo é uma fonte de energia para impelir o compressor mecânico. A "geladeira" ou "caixa de gelo" antiquada (icebox), em que se devia acrescentar gelo continuamente, não era, tecnicamente, um refrigerador. Hoje usamos muitas vezes a palavra refrigerar com o sentido de "tornar ou manter fresco", sem considerar como isso é feito.
Um verdadeiro refrigerador precisa de um refrigerante. Mas NÃO esse refrigerante:
O refrigerante em questão é um composto que passe pelo ciclo evaporação-compressão. Já em 1748 usou-se éter para demonstrar o efeito resfriante de um refrigerante, porém, mais de cem anos se passaram antes que uma máquina de éter comprimido fosse empregada corno refrigerador. Por volta de 1851, James Harrison, um escocês que emigrara para a Austrália em 1837, construiu um refrigerador por compressão de vapor baseado em éter para uma fabrica de cerveja australiana. Ele e um norte-americano, Alexandre Twining, que fez um sistema de refrigeração por vapor mais ou menos na mesma época, estão entre os pioneiros da refrigeração comercial.
O amoníaco foi usado como substancia refrigerante em 1859 pelo francês Ferdinand Carré – mais um postulante ao titulo de pioneiro de refrigeração comercial. Cloreto de metil e dióxido de enxofre também foram empregados nesses primeiros tempos; o dióxido de enxofre foi utilizado no primeiro ringue de patinação artificial do mundo. Essas pequenas moléculas realmente puseram fim ao apelo ao sal e às especiarias como forma de preservar alimentos.
C2H5—O—C2H5
CH3F
SO2
Em 1873, após implantar com sucesso, em terra, sistemas de refrigeração para a indústria australiana de processamento de carne bem como para fabricas de cerveja, James Harrison decidiu transportar carne num navio refrigerado da Austrália para a Grã-Bretanha. Mas seu sistema mecânico de evaporação-com-pressão baseado em éter não funcionou no mar. Mais tarde, no inicio de dezembro de 1879, o S.S. Strathleven, equipado por Harrison, deixou Melbourne o chegou a Londres dois meses depois com 40 toneladas de carne bovina e do carneiro ainda congeladas. O processo de refrigeração de Harrison passara no teste. Em 1882, sistema semelhante foi instalado no S.S. Dunedin, e o primeiro carregamento de carne de cordeiro da Nova Zelândia foi enviado para a Grã. Bretanha. Embora o Frigorifique seja frequentemente mencionado como o primeiro navio refrigerado do mundo, tecnicamente a tentativa feita por Harrison em 1873 faz mais jus a essa qualificação. Ela não foi, contudo, a primeira viagem bem-sucedida de um navio refrigerado. O titulo pertence com mais justiça ao S.S. Paraguay, que, em 1877, chegou a Le Havre, na França, com um carregamento de carne bovina congelada proveniente da Argentina. O sistema de refrigeração do Paraguay foi projetado por Ferdinand Carré e usava amoníaco como refrigerante.
No Frigorifique, a "refrigeração" era mantida por água resfriada com gelo (armazenado num espaço bem isolado) e depois bombeada para todo o navio através de canos. Mas a bomba do navio quebrou durante a viagem iniciada em Buenos Aires, e a carne estragou antes de chegar a França. Assim, embora tenha antecedido o S.S. Paraguay em vários meses, o Frigorifique não foi um verdadeiro navio refrigerado; não passava de uma embarcação que mantinha alimentos resfriados ou congelados com o uso de gelo armazenado. O que o Frigorifique pode reivindicar é ter sido pioneiro no transporte de carne resfriada através do oceano, mesmo que não tenha sido um pioneiro bem-sucedido.
Qualquer que tenha sido, legitimamente, o primeiro navio refrigerado, na década de 1880 foi implantado o processo mecânico de compressão-evaporação para resolver o problema do transporte de carne das áreas produtoras do mundo para os mercados mais amplos da Europa e do leste dos Estados Unidos. Navios provenientes da Argentina e das pastagens de gado bovino e ovino da Austrália e da Nova Zelândia enfrentavam uma viagem de dois ou três meses sob as temperaturas quentes dos trópicos. O sistema simples baseado no gelo do Frigorifique não teria sido eficaz. A refrigeração mecânica passou a se tornar cada vez mais confiável, dando aos pecuaristas um novo meio de levar seus produtos aos mercados do mundo. A refrigeração desempenhou portanto um papel capital no desenvolvimento econômico da Austrália, Nova Zelândia, Argentina, África do Sul e outros países, cujas vantagens naturais de abundante produção agrícola eram reduzidas pelas grandes distâncias que os separavam dos mercados.



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