domingo, 14 de julho de 2013

10. VÍDEO

http://www.youtube.com/watch?v=2Ad55YgU7jY&feature=youtu.be

9. CONCLUSÃO

Atualmente fabricamos centenas de compostos que contêm cloro e não são venenosos, não destroem a camada de ozônio, não são danosos ao ambiente, não são carcinogênicos e nunca foram usados como armas de guerra. Eles encontram uso em nossas casas, indústrias, escolas, hospitais, carros, barcos e aviões. Não são objeto de nenhuma publicidade e não fazem nenhum mal, mas tampouco podem ser qualificados de substâncias químicas que mudaram o mundo.

A ironia dos compostos clorocarbônicos é que exatamente aqueles que causaram maiores danos ou que têm potencial para isso parecem também ter sido os responsáveis por alguns dos avanços mais benéficos em nossa sociedade. Os anestésicos foram essenciais para o progresso da cirurgia como um ramo altamente especializado da medicina. O desenvolvimento de moléculas refrigerantes para uso em navios, trens e caminhões abriu novas oportunidades de comércio, de que resultaram crescimento e prosperidade em partes subdesenvolvidas do mundo. O armazenamento de comida é hoje seguro e prático graças às geladeiras domésticas. Pouco valorizamos o conforto do ar-condicionado, e nos parece óbvio que a água que bebemos é segura e que nossos transformadores elétricos não vão pegar fogo. As doenças transmitidas por insetos foram eliminadas ou grandemente reduzidas em muitos países. Não podemos desconsiderar o impacto positivo desses compostos.

8. MOLÉCULAS QUE FAZEM DORMIR

Nem todas as moléculas clorocarbônicas se revelaram desastrosas para a saúde humana. Além do hexaclorofeno, com suas propriedades anti-sépticas, uma pequena molécula que contem cloro provou-se muito benéfica a medicina. Até meados do século XIX, as cirurgias eram realizadas sem anestesia — às vezes com a administração de quantidades copiosas de álcool, na crença de que isso deixaria o paciente entorpecido, reduzindo-lhe o sofrimento. Ao que parece, alguns cirurgiões bebiam também, no intuito de se fortalecer antes de infligir tamanha dor. Foi então que, em outubro de 1846, um dentista de Boston, William Morton, conseguiu demonstrar que o éter podia ser usado induzir a narcose — uma inconsciência temporária — durante procedimentos cirúrgicos. A noticia do poder que tinha o éter de permitir uma cirurgia sem dor espalhou-se rapidamente, e logo as propriedades anestésicas de outros componentes eram investigadas.


 O escocês James Young Simpson, que era médico e professor de medicina e obstetrícia na Escola Médica da Universidade de Edimburgo, desenvolveu uma forma singular de testar compostos como possíveis anestésicos. Consta que convidava pessoas para jantar e pedia-lhes que o acompanhassem na inalação de várias substâncias. O clorofórmio (CHC1a), sintetizado pela primeira vez em 1831, evidentemente foi aprovado nesse teste. Depois do experimento, ao recobrar seus sentidos, Simpson viu-se estendido no chão da sala de jantar, cercado pelos visitantes ainda comatosos. Sem perda de tempo, passou a aplicar clorofórmio em seus pacientes.


Como anestésico, esse composto clorocarbônico tinha varias vantagens sobre o éter: o clorofórmio funcionava mais depressa, cheirava melhor era usado em menor quantidade. Além disso, quando se empregava o clorofórmio, a recuperação era mais rápida e menos desagradável que com o éter. A extrema inflamabilidade do éter também era um problema. Ele formava uma mistura explosiva com o oxigênio, e a menor centelha durante um procedimento cirúrgico, mesmo a produzida pelo choque de um instrumento de metal como outro, podia resultar em ignição.

                            

A anestesia com clorofórmio foi rapidamente aceita para cirurgias. Alguns pacientes morriam, mas apesar disso os riscos associados eram considerados pequenos. Como a cirurgia era freqüentemente o último recurso, e como os pacientes às vezes morriam de choque durante as cirurgias mesmo sem anestésico algum, a taxa de mortalidade foi considerada aceitável. Os procedimentos cirúrgicos costumavam se realizar rapidamente — prática o que for essencial antes do surgimento da anestesia —, e, assim os pacientes não ficavam expostos ao clorofórmio por grandes períodos de tempo. Estimou-se que durante a Guerra Civil Norte-Americana realizaram-se quase sete mil cirurgias em campo de batalha com uso de clorofórmio, com menos de 40 mortes em decorrência do uso de analgésico.


A anestesia cirúrgica foi universalmente reconhecida como um grande avanço, mas seu uso no parto era controverso. As reservas, em parte, vinham dos médicos. Alguns expressavam preocupações procedentes acerca do efeito do clorofórmio ou do éter na saúde do nascituro, citando observações de contrações uterinas reduzidas e taxas diminuídas de respiração do bebê num parto sob anestesia. Estava em jogo, porém, mais que apenas a segurança do bebe e o bem-estar materno. Idéias morais e religiosas sustentavam a crença de que ao dores do parto eram necessárias e justas. No Livro do Gênesis as mulheres, como descendentes de Eva, são condenadas a sofrer ao dar à luz como punição por sua desobediência no Éden: "Parirás com dor." Segundo uma interpretação estrita dessa passagem bíblica, qualquer tentativa de aliviar as dores do parto era contrária à vontade de Deus. Numa visão mais extremada, o trabalho de parto seria uma expiação do pecado — presumivelmente o pecado do intercurso sexual, o único meio de conceber uma criança em meados do século XIX.

Mas em 1853, na Grã-Bretanha, a rainha Vitória deu à luz seu oitavo filho, o príncipe Leopold, com a ajuda do clorofórmio. Sua decisão de usar o anestésico novamente em seu nono e último parto — o da princesa Beatrice, em 1857 — acelerou a aceitação dessa prática, apesar das críticas feitas a seus médicos em The Lancet, a respeitada revista médica britânica. O clorofórmio tornou-se o anestésico preferido para partos na Grã-Bretanha e em grande parte da Europa; o éter continuou sendo preferido nos Estados Unidos.

Na primeira metade do século XX, um método diferente de controle da dor no parto ganhou rápida aceitação na Alemanha e se espalhou rapidamente em outras partes da Europa. O sono crepuscular, como era conhecido, consistia na administração de escopolamina e morfina, compostos que foram discutidos nos Capítulos 12 e 13. Uma quantidade muito pequena de morfina era administra-da no início dos trabalhos. Ela reduzia a dor, embora não a eliminasse por completo, sobretudo se o parto fosse longo ou difícil. A escopolamina induzia o sono e, o que era mais importante para os médicos que aprovavam essa combinação de drogas, assegurava que a mulher não tivesse nenhuma lembrança de seu parto. O sono crepuscular era visto como a solução ideal para as dores do parto, tanto assim que uma campanha publica promovendo seu uso foi iniciada nos Estados Unidos em 1914. A National Twilight Sleep Association publicava panfletos e organizava palestras exaltando as virtudes dessa nova abordagem.


Sérias apreensões expressadas por membros da comunidade medica eram rotuladas de desculpas usadas por médicos duros e insensíveis para conservar controle sobre as pacientes. O sono crepuscular tornou-se uma questão política, uma parte do movimento mais amplo que: finalmente conquistou o direito do voto para as mulheres. Hoje, o que parece muito curioso nessa campanha é que as mulheres acreditavam que o sono crepuscular eliminava o sofrimento do parto, permitindo à mãe acordar bem-disposta e pronta para acolher novo bebê. Na realidade, as mulheres sofriam a mesma dor, comportando-se como se nenhum medicamento tivesse sido administrado, mas a amnésia Induzida pela escopolamina bloqueava qualquer lembrança do padecimento, O sono crepuscular dava uma imagem falsa de maternidade tranquila e indolor.

Como os outros compostos clorocarbônicos discutidos neste capitulo, o clorofórmio — a despeito de todos os seus benefícios para pacientes de cirurgia e os médicos — também revelou um lado escuro. Hoje se sabe que danos causados ao fígado e aos rins, e altos níveis de exposição aumentam o risco de câncer, Pode lesar a córnea ocular, causar rachaduras da pele e resultar em fadiga, náusea e batimentos cardíacos irregulares, juntamente com suas ações anestésicas e narcóticas. Quando exposto a temperaturas elevadas, ao ar ou à luz, o clorofórmio forma cloro, monóxido de carbono, fosgênio e/ou cloreto de hidrogênio, todos eles tóxicos e corrosivos. Hoje o trabalho com clorofórmio exige roupas e equipamentos especiais, algo muito diverso da descontração reinante na época das primeiras administrações do anestésico. Mas embora suas propriedades negativas tenham sido reconhecidas há mais de um século, o clorofórmio ainda seria considerado uma dádiva divina, e não um vilão, por centenas de milhares de pessoas que inalaram de bom grado seus vapores de cheiro adocicado antes de uma cirurgia.

Não há dúvida de que muitos compostos clorocarbônicos realmente fazem papel do vilão, embora talvez esse rótulo se aplique melhor às pessoas que jogaram deliberadamente PCBs em rios, reclamaram contea a proibição dos CFCs mesmo depois que seus efeitos sobre a camada de ozônio haviam sido demonstrados, aplicaram pesticidas indiscriminadamente (seja legal ou ilegalmente) à terra e à água e puseram o lucro acima da segurança em fabricas e laboratórios no mundo inteiro.

7. O CLORO EM PESTICIDAS — DE BENFAZEJO A BANIDO

Outras moléculas que contêm cloro não apenas vazaram no ambiente, mas foram deliberadamente lançadas nele sob a forma de pesticidas, por vezes em imensas quantidades, ao longo de décadas e em muitos países. Alguns dos pesticidas mais eficazes já inventados contêm cloro. De inicio, pensava-se em moléculas pesticidas muito estáveis — aquelas que persistem no ambiente -- eram desejáveis. Os efeitos de uma aplicação poderiam talvez perdurar durante anos. De fato isso se comprovou, mas, lamentavelmente, as conseqüências nem sempre foram as previstas. O uso de pesticidas contendo cloro foi de grande valia para a humanidade, mas produziu também, em alguns casos, efeitos colaterais totalmente insuspeitados e bastante danosos.

Mais que qualquer um desses pesticidas, a molécula do DDT ilustra o conflito entre benefício e risco potencial. O DDT é um derivado de 1,1-difeniletano; DDT é uma abreviação do nome diclorodifeniltricloretano.


O DDT foi preparado pela primeira vez em 1874. Somente em 1942, no entanto, percebeu-se que era um potente inseticida, a tempo para que fosse usado na Segunda Guerra Mundial como pó antipiolho, para sustar a difusão do tifo e matar as larvas de mosquitos transmissores de doenças. "Bombas para insetos", feitas com latas de aerossol cheias de DDT, foram amplamente usadas pelos militares norte-americanos no Pacífico Sul. Eles desferiam um duplo golpe no ambiente liberavam grandes quantidades de CFCs juntamente com nuvens de DDT.


Antes mesmo de 1970, quando três milhões de toneladas de DDT já haviam sido fabricadas e utilizadas, já haviam surgido preocupações com seu efeito sobre o ambiente e o desenvolvimento da resistência dos insetos ao produto. O efeito do DDT sobre os animais selvagens sobre os animais selvagens, em particular as aves de rapina como águias, falcões e gaviões, que estão no topo de cadeias alimentares, é atribuído não diretamente ao DDT, mas sim ao principal produto de sua composição.Tanto o DDT quanto o produto da decomposição são compostos solúveis em gordura que se acumulam em tecidos animais. Nas aves, contudo, esse produto da decomposição inibe a enzima que fornece cálcio para as cascas de seus ovos. Assim, aves expostas ao DDT põem ovos com cascas muito frágeis que se quebram antes de chocados. A partir do final da década de 1940, percebeu-se um acentuado declínio na população de águias, gaviões e falcões, Grandes perturbações no equilíbrio entre insetos úteis e nocivos, enfatizadas por Rachel Carson em seu livro de 1962, Silent Spring, foram atribuídas ao uso cada vez mais intenso de DDT.


Durante a Guerra do Vietnã, de 1962 a 1970, milhões de litros de agente laranja — uma mistura de dois herbicidas 2,4-D e 2,4,5-T, contendo cloro foram pulverizados sobre áreas do sudeste da Ásia para destruir a floresta que ocultava os guerrilheiros.


Embora esses dois compostos não sejam particularmente tóxicos, o 2,4,5-T contém traços de um produto colateral envolvido na onda de defeitos congênitos, cânceres, doenças da pele, doenças do sistema imune e outros graves problemas de saúde que afetam os vietnamitas até hoje. O composto responsável tem o nome químico 2,3,7,8-tetraclorodibenzodioxina — hoje comumente conhecido como dioxina, embora esta palavra designe especificamente uma classe de compostos orgânicos que não partilham necessariamente as propriedades nocivas da 2,3,7,8-tetraclorodibenzodioxina.

 



A dioxina é considerada o mais letal composto feito pelo homem, embora ainda milhões de vezes menos mortal que o composto mais tóxico da natureza, a toxina botulínica A. Em 1976, uma explosão industrial em Seveso, na Itália, permitiu a liberação de uma quantidade de dioxina, com resultados devastadores— cloracne, defeitos congênitos, câncer — para pessoas e animais do lugar. As notícias do acidente, que foram fartamente divulgadas pela mídia, deixaram claro para o público o efeito nocivo de todos os componentes chamados de dioxina Assim como problemas inesperados para a saúde humana acompanharam utilização de um herbicida desfolhante, problemas de saúde inesperados decorreram também do uso de uma outra molécula clorada, o hexaclorofeno, um produto germicida muito eficaz e amplamente usado nas décadas de 1950 e 1960 em sabões, xampus, loções pós-barba, desodorantes, anti-sépticos bucais e produtos similares.


O hexaclorofeno era também habitualmente usado em bebês e acrescentado a fraldas, talcos e outros produtos da toalete infantil. Testes realizados em 1972, porém, mostraram que seu uso levava a danos no cérebro e no sistema nervoso em animais de laboratório. Em seguida o hexaclorofeno foi proibido em preparações vendidas sem receita médica e em produtos para bebês. Porém, dada sua grande eficácia contra certas bactérias, ainda tem um uso limitado, apesar da toxicidade, em medicações vendidas com prescrição médica para acne e em preparados para limpeza cirúrgica.


6. PCBs — MAIS PROBLEMAS GERADOS PELOS COMPOSTOS CLORADOS

Há outros compostos clorocarbônicos que, inicialmente saudados como moléculas milagrosas, revelaram-se, como os CFCs, um sério risco para a saúde. A produção industrial de bifenilos policlorados, ou PCBs, como são mais geralmente conhecidos, começou no final da década de 1920. Esses compostos eram considerados ideais para uso como isoladores elétricos e líquidos refrigerantes em transformadores, reatores, capacitores e interruptores de circuito, nos quais sua extrema estabilidade, mesmo em temperaturas elevadas, e sua não-inflamabilidade eram enormemente valorizadas. Foram empregados como plastificantes — agentes que aumentam a flexibilidade — na fabricação de vários polímeros, inclusive aqueles usados em embalagens na indústria de alimentos, para revestir mamadeiras e em copos de poliestireno. Os PCBs foram também utilizados na fabricação de várias tintas de impressão, papel de cópia sem carbono, tintas, ceras, adesivos, lubrificantes e bombas de gasolina a vácuo. Os bifenilos policlorados são compostos em que os átomos de cloro foram substituídos por átomos de hidrogênio na molécula de bifenilo original.
Essa estrutura tem muitos arranjos possíveis, dependendo de quantos átomos de cloro estão presentes e de onde eles estão localizados nos anéis de bifenilo. Os exemplos a seguir mostram dois diferentes bifenilos triclorados, cada um com três cloros, e um bifenilo pentaclorado, com cinco cloros. Mais de 200 diferentes combinações são possíveis.


Não muito tempo depois de iniciada a fabrição de PCBs, surgiram relatos de problemas saúde entre os operários das fábricas que os produziam. Muitos mencionavam uma doença da pele hoje conhecida como cloracne, em que cravos e pústulas supurantes aparece no rosto e no corpo. Sabemos agora que a cloracne é um dos primeiros sintomas de envenenamento sistêmico por PCB e pode ser acompanhada por danos aos sistemas imune, nervoso, endócrino e reprodutivo, além de falência do fígado e câncer. Longe de serem moléculas milagrosas, os PCBs estão na verdade entre os mais perigosos compostos jamais sintetizados. A ameaça que representam reside não apenas em sua toxicidade direta para o homem e outros animais, mas, como no caso do CFCs, na própria estabilidade que a princípio os fazia parecer tão úteis. Os .,PCBs persistem no ambiente, estão sujeitos ao processo de bioacumulação (ou biomagnificação), no qual sua concentração aumenta ao longo da cadeia alimentar. Os animais que estão no topo de cadeias alimentares, como ursos polares, leões, baleias, águias e seres humanos, podem acumular altas concentrações de PCBs nas células de gordura de seus corpos. 

Em 1968, um episódio devastador de envenenamento humano por PCB condensou os efeitos diretos da ingestão dessas moléculas. Mil e trezentos moradores de Kyushu, no Japão, adoeceram — no início com cloracne e problemas respiratórios e de visão — após comer óleo de farelo de arroz que havia sido acidentalmente contaminado com PCBs. Entre as conseqüências de longo prazo incluem-se defeitos congênitos e taxas de câncer do fígado 15 vezes maiores do que as usuais. Em 1977 os Estados Unidos proibiram a descarga de materiais contendo PCB em cursos d'água. Sua fabricação foi finalmente proibida por lei em 1979, bom tempo depois que numerosos estudos haviam relatado os efeitos tóxicos desses compostos sobre a saúde humana e a saúde de nosso planeta. Apesar das normas de controle dos PCBs, ainda há milhões de quilos dessas moléculas em uso ou à espera de locais seguros para serem descartadas. Elas continuam vazando no ambiente.

5. O LADO ESCURO DO CLORO

Os clorofluorcarbonetos não são o único grupo químico de moléculas que, consideradas uma maravilha quando descobertas, mais tarde revelaram inesperadamente toxicidade ou potencial para causar danos ambientais ou sociais.O que talvez seja surpreendente, no entanto, é que compostos orgânicos contendo cloro tenham revelado esse "lado escuro" mais que quaisquer outros compostos orgânicos. Mesmo o cloro elementar exibe essa dicotomia. Milhões de pessoas no mundo todo dependem do cloro para a purificação da água que lhes é fornecida, e embora outras substâncias químicas possam assegurar isso igualmente bem, são muito mais caras.

Um dos maiores avanços no campo da saúde pública no século XX foi o esforço para levar água potável a todas as partes do mundo, tarefa que ainda temos de completar. Sem o cloro estaríamos muito mais distantes dessa meta; no entanto, o cloro é venenoso, fato bem compreendido por Fritz Haber. O primeiro composto venenoso usado na Primeira Guerra Mundial foi o gás cloro, amarelo-esverdeado, cujos efeitos iniciais incluem a sufocação e a dificuldade de respirar. O cloro é um irritante poderoso para as células e pode causar inchação fatal de tecidos nos pulmões e nas vias respiratórias. Outros compostos orgânicos, como o gás de mostarda e o fosgênio, usados posteriormente como gases venenosos, também contêm cloro, e seus efeitos tão terríveis quanto os do gás cloro. Embora a taxa de mortalidade por exposição ao gás de mostarda não seja tão alta, ele causa dano permanente aos olhos e deterioração grave e permanente do sistema respiratório.

Gás cloro

O gás fosgênio não tem cor e é extremamente tóxico. É o mais insidioso desses venenos porque, não sendo imediatamente irritante, pode ser inalado em concentrações fatais antes que se detecte sua presença. A morte resulta em geral de uma inchação grave dos tecidos dos pulmões e das vias respiratórias, levando à sufocação.

4. O LADO ESCURO DOS FRÉONS

O entusiasmo em torno dos CFCs durou até 1974, quando achados inquietantes foram anunciados pelos pesquisadores Sherwood Rowland e Mario Molina, numa reunião da American Chemical Society em Atlanta. Eles haviam descoberto que a própria estabilidade dos CFCs representava um problema totalmente inesperado e perturbador.

Ao contrário de compostos menos estáveis, os CFCs não se decompõem por reações químicas comuns, propriedade que de início os fizera parecer extremamente atraentes. Os CFCs liberados na camada mais baixa da atmosfera circulam de um lugar para outro durante anos, ou mesmo décadas, até finalmente subir para a estratosfera, onde são rompidos pela radiação solar. Há uma camada na estratosfera que se estende de cerca de 15 a 30Km acima da superfície da Terra, conhecida como camada de ozônio. Isso pode dar a ideia de que esta é uma camada bastante grossa, mas se a mesma camada existisse sob as pressões verificadas no nível do mar, ela mediria apenas milímetros. Na região rarefeita da estratosfera, a pressão do ar e tão baixa que a camada de ozônio se expande vastamente.


O ozônio é uma forma elementar de oxigênio. A única diferença entre estas formas é o número de átomos de oxigênio em cada molécula —oxigênio é O2 e ozônio é O3 —, mas as duas têm propriedades bastante diferentes. Muito acima da camada de ozônio, a intensa radiação proveniente do sol rompe a ligação numa molécula de oxigênio, produzindo dois átomos de oxigênio:


Esses átomos flutuam para baixo até a camada de ozônio, onde cada um reage com outra molécula de oxigênio para formar ozônio.


Dentro da camada de ozônio, moléculas de ozônio são fragmentadas pela radiação ultravioleta de alta energia, para formar uma molécula de oxigênio e um átomo de oxigênio.


Dois átomos de oxigênio recombinam-se então para formar a molécula O2:


A camada de ozônio, portanto é constantemente formada e constantemente rompida. Ao longo de milênios esses dois processos alcançaram um equilíbrio, de modo que a concentração de ozônio na atmosfera terrestre permanece relativamente constante. Esse arranjo tem importantes conseqüências para a vida na terra; o ozônio da camada de ozônio absorve a parte do espectro ultravioleta vindo do sol que é mais prejudicial aos seres vivos. Já se disse que vivemos sob um guarda-chuva de ozônio que nos protege da radiação do sol.

Mas os achados das pesquisas de Rowland e Molina mostraram que átomos de cloro aumentam a taxa de fragmentação das moléculas de ozônio. Numa primeira etapa, átomos de cloro colidem com ozônio para formar uma molécula de monóxido de cloro (C1O), deixando atrás de si uma molécula de oxigênio.


Na etapa seguinte, o C10 reage com um átomo de oxigênio para formar uma molécula de oxigênio e regenera o átomo de cloro:


Rowland e Molina sugeriram que essa reação generalizada podia perturbar o equilíbrio entre as moléculas de ozônio e oxigênio, uma vez que átomos do cloro aceleram a ruptura do ozônio mas não têm nenhum efeito sobre sua produção. Um átomo de cloro consumido na primeira etapa da decomposição do ozônio e produzido novamente na segunda etapa atua como um catalisador, isto é, aumenta a taxa de reação, mas ele mesmo não é consumido. Este o aspecto mais alarmante do efeito dos átomos de cloro sobre a camada de ozônio — o problema não é que as moléculas de ozônio são destruídas pelo cloro, mas que um mesmo átomo de cloro pode catalisar essa fragmentação um sem-número de vezes. Segundo uma estimativa, cada átomo de cloro que chega à atmosfera superior através de uma molécula de CFC destrói, em média, cem mil moléculas de ozônio antes de ser desativada. Para cada 1% de redução da camada de ozônio, mais 2% de radiação ultravioleta nociva poderia penetrar na atmosfera da Terra.

Com base em seus resultados experimentais, Rowland e Molina previram que átomos de cloro dos CFCs e compostos relacionado iriam, ao chegar a estratosfera, iniciar a decomposição da camada de ozônio. Na época em que suas pesquisas foram feitas, bilhões de moléculas de CFC eram liberadas na atmosfera diariamente. A informação de que os CFCs representavam um perigoreal e imediato de destruição da camada de ozônio e uma ameaça à saúde e à segurança de todos os seres vivos inspirou certa preocupação, mas vários anos se passaram — e novos estudos, relatórios, forças-tarefa, reduções progressivas voluntárias, interdições — antes que os CFCs fossem completamente abolidos.

Dados de uma fonte inteiramente inesperada geraram a vontade política proibir os CFCs. Estudos feitos na Antártida em 1985 mostraram uma red çau crescente da camada de ozônio sobre o pólo Sul. A constatação de que o maior dos chamados "buracos" na camada de ozônio aparecia no inverno sobre um continente praticamente desabitado — não havia grande necessidade de usar refrigerantes ou laquês na Antártida — foi desconcertante. Significava obviamente que a liberação de CFCs no meio ambiente era um problema global, não apenas uma preocupação localizada. Em 1987, um avião de pesquisa de grande altitude que voava sobre a região do pólo Sul encontrou moléculas de monóxido de cloro (ClO) nas áreas de ozônio reduzido — assim, foram comprovadas experimentalmente as previsões de Rowland e Molina (que oito anos depois, em 1955, partilharam o Prêmio Nobel de Química pela identificação dos efeitos de longo prazo dos CFCs na estratosfera e no meio).

Em 1987, um acordo chamado Protocolo de Montreal exigiu que todas as nações signatárias se comprometessem a reduzir gradualmente o uso dos CFCs até sua completa eliminação. Hoje usam-se como refrigerantes os compostos hidrofluorcarbonetos e hidroclorofluorcarbonetos, em vez dos clorofluorcarbonetos. Essas substâncias não contêm cloro ou são mais facilmente oxidadas na atmosfera. Só uma pequena porção chega aos elevados níveis estratosféricos que os menos reativos CFCs alcançavam. Mas os novos substitutos dos CFCs não são refrigerantes tão eficazes e requerem até 3% mais de energia para o ciclo de refrigeração. Ainda há bilhões de moléculas de CFC na atmosfera. Nem todos os países assinaram o Protocolo de Montreal, e entre os que o fizeram, ainda restam milhões de refrigeradores contendo CFC em uso e provavelmente centenas de milhares de aparelhos velhos abandonados que deixam vazar CFCs na atmosfera, onde se juntarão aos CFCs restantes em lenta mas inevitável ascensão para produzir estragos na camada de ozônio. O efeito dessas moléculas antes tão louvadas poderá ser sentido por centenas da anos no futuro. Quando a intensidade da radiação ultravioleta de alta energia que atinge a superfície da terra aumenta, o potencial de dano para as células e suas moléculas de DNA — levando a níveis mais elevados de câncer e a maiores taxas de mutação — também aumenta.